terça-feira, 27 de julho de 2010

Pequeno dicionário do comportamento.

iG São Paulo

O comportamento humano é cheio de nuances e não se enquadra em fórmulas. No entanto, alguns padrões podem ser captados. Conversamos com um time de especialistas para entender o que algumas atitudes podem realmente significar.

A pessoa que age de um jeito arrogante1. A pessoa que age de um jeito arrogante

É aquele tipo que não olha para você nos olhos e fica com um certo ar de tédio enquanto participa de uma conversa. Em locais lotados, a peessoa simplesmente não interage: prefere ficar checando os emails no Iphone.

O que significa:De acordo com o psicólogo Ailton Amélio da Silva, especialista em comunicação não-verbal e relacionamento amoroso da Universidade de São Paulo, a pessoa que parece ser arrogante pode ser apenas bastante tímida.“Os tímidos muitas vezes parecem orgulhosos e distantes. Em ambientes lotados, eles preferem não se destacar, o que dá a impressão de que não gostam de se misturar aos demais”, explica.

A pessoa que tenta ser engraçada demais2. A pessoa que tenta ser engraçada demais

Este é um tipo bastante comum encontrado em bares, salas de aula e até mesmo no ambiente de trabalho. Não importa a situação, ele se esforça em fazer alguém rir – nem que para isso precise expor a intimidade alheia.

O que significa:Apesar de parecerem sempre de bom humor, os eternos engraçados podem sentir insegurança. Segundo a psicóloga Magdalena Ramos, coordenadora do Núcleo de Terapia de Casal e Família da PUC, são pessoas que precisam se doar para serem aceitas. “Elas acham que as pessoas não vão gostar delas naturalmente”, diz. O psicólogo Cláudio Picazio, especialista em sexualidade humana, concorda. “A pessoa sente medo de não ter um atributo e tenta chamar atenção compensando com alguma outra coisa. Quem representa isso muito bem é o gordinho engraçado”, diz.

Pessoa que se preocupa demais com a opinião dos outros3. Pessoa que se preocupa demais com a opinião dos outros

Muitas vezes vistas como indecisas, essas pessoas vivem perguntando aos outros o que devem fazer. Outra característica comum é se preocuparem muito com a aparência – precisam estar sempre com a roupa da moda, com a make que todo mundo está usando e por aí vai.

O que significa:O que provavelmente está por trás é a falta de uma crítica interna. A psicóloga Lucia Rosenberg, mestre em Psicologia pela New School for Social Research em Nova York e colunista do iG, explica que, de alguma forma, essas pessoas não aprenderam a criar seus crivos internos, então precisam sempre de aprovação externa. “Essa pessoa aprendeu que não é boa, correta ou bonita o suficiente”, diz.

Pessoa que quer sempre agradar4. Pessoa que quer sempre agradar

Você pode contar com ela para absolutamente tudo: ela ajuda quando você está de mudança, cuida do seu jardim, do seu cachorro, de tudo o que você inventar e precisar.

O que significa:O ato de altruísmo pode ser, na verdade, combustível de uma vaidade sem limites. A generosidade, nas palavras do psiquiatra e psicanalista Alfredo Simonetti, não existe para esse tipo de pessoa. “Aparentemente são pessoas muito legais, de relacionamento fácil, mas, por trás disso, são pessoas narcisistas e vaidosas ao extremo. Acham que vão conseguir ser amadas por todos”, diz.

Pessoa que é muito egoísta5. Pessoa que é muito egoísta

Elas levam ao pé da letra a máxima “cada um por si”. Não querem abrir mão de nada, não sabem dividir e têm ciúme de deus e o mundo.

O que significa:De acordo com Alfredo Simonetti, essas pessoas têm uma autocrítica severa e um medo enorme de serem lesadas. “Elas temem fazer papel de bobas e ingênuas, principalmente quando se relacionam. Desta forma, exageram na autoproteção e se tornam extremamente egoístas”, explica.

A pessoa que é muito perfeccionista6. A pessoa que é muito perfeccionista

A casa desta pessoa é o lugar mais arrumado que existe, assim como a mesa de trabalho. Normalmente, são muito exigentes com as pessoas que estão ao seu lado, principalmente se forem subordinados.

O que significa:Há grandes possibilidades de haver problemas na vida pessoal. “A gente projeta para fora tudo o que está dentro de nós”, diz Cláudio Picazio. Este tipo de pessoa tem a fantasia de que consegue organizar e controlar tudo. Quando algo dá errado em sua vida, ela exterioriza. “Ela acha que arrumando tudo na parte exterior também ajeitará por dentro”, completa.

A pessoa que não sabe agradecer7. A pessoa que não sabe agradecer

Você pode fazer tudo por ela: indicar um novo trabalho, apresentar um pretendente, emprestar dinheiro. O que vai receber em troca? Nada, nem um obrigadinha discreto.

O que significa:Provavelmente não é falta de educação e nem maldade. Segundo Magdalena Ramos, o que pode explica tal comportamento é o orgulho. “Algumas pessoas se sentem diminuídas quando precisam falar perdão ou obrigado, pois significa aceitarem um erro ou uma necessidade de ajuda. Para elas, falar isso é uma forma de mostrar uma fraqueza ou um erro cometido”, diz.

Pessoa que quer sempre dar a última palavra8. Pessoa que quer sempre dar a última palavra

Numa discussão, ela dá sempre tem a palavra final e definitiva. Ah, e ela também dá o tema das conversas e termina o assunto quando acha que é a hora.

O que significa:Pessoas teimosas podem ser controladoras e inseguras, por isso escolhem impor ideias no lugar de discuti-las. A psicóloga Lucia Rosenberg diz que essas pessoas precisam ter razão sempre. “Ela fica mais segura quando impõe um assunto, a razão fica com ela. Ela fica com a ideia, com a razão, com a última palavra, com tudo”, afirma. Insegurança pura.

Pessoa que continua atrás do ex9. Pessoa que continua atrás do ex

A relação terminou, mas mesmo assim, ela quer saber tudo o que acontece na vida do ex. Para isso, usa a internet, as redes sociais, questiona os amigos em comum e, em alguns casos, chega a perguntar diretamente para a pessoa em questão.

O que significa:Segundo Claudio Picazio, quando temos uma relação, colocamos nosso amor e afeto na outra pessoa, assim, quando ela acaba, queremos saber o que foi feito com o amor que demos. “Quando a outra pessoa vai embora, a gente não sabe para quem dar o amor, ficamos com uma sensação de vazio e curiosidade para saber o que foi feito do amor que existia”, explica.

Pessoa que quer saber tudo do passado do namorado10. Pessoa que quer saber tudo do passado do namorado

Existem pessoas que precisam saber tudo o que o namorado atual fez no passado. Elas fazem mil perguntas e comparações. Enquanto não fica sabendo as histórias íntimas nos mínimos detalhes, não dá sossego ao namorado.

O que significa:O que explica tal ato, segundo Alfredo Simonetti, é a ilusão do amor exclusivo, a ideia de que a pessoa precisa ser o único amor de seu amado. “Para essas pessoas é difícil suportar a ideia de que o atual amou outra pessoa, mesmo que isso tenha acontecido no passado”, diz.

Pessoa que fica explicando demais como ela é11. Pessoa que fica explicando demais como ela é

Depois de uns instantes em que conhece uma pessoa nova, ela já solta: “olha, eu sou assim, não gosto de tal e tal coisa” e começa a explicar sua própria personalidade.

O que significa:Essa pode ser a atitude de uma pessoa que, além de insegura, é ansiosa demais. De acordo com Magdalena Ramos, quem se explica demais é uma pessoa que não consegue esperar que a relação se construa naturalmente. “Ela precisa se antecipar aos acontecimentos e também tem um aspecto de proteção, uma barreira que ela mesma já coloca contando sobre si”, explica.

Pessoas que sempre têm uma história melhor12. Pessoas que sempre têm uma história melhor

Esse tipo mal espera todos terminarem suas histórias para poder contar a sua, que é sempre arrasadora. Tudo acontece com ela de uma forma muito mais intensa e fantástica.

O que significa:Além de boas narradoras, elas podem sofrer de um complexo de inferioridade imenso. Cláudio Picazio explica: “para ela se sentir gostada, precisa se mostrar a melhor. São pessoas que precisam provar que são perfeitas a todo momento”.

Pessoa que se acha culpada de tudo (ou que tudo dá errado com ela)13. Pessoa que se acha culpada de tudo (ou que tudo dá errado com ela)

Como a Hiena Hardy (oh vida, oh céu, oh azar...), do desenho animado Lippy e Hardy, esta pessoa acha que é culpada dos problemas de todos, além de sempre achar que tudo dá errado com ela.

O que significa:Pode haver duas explicações básicas: mania de perseguição ou vitimização egocêntrica. Magdalena Ramos afirma que as pessoas que se comportam dessa forma têm mania de perseguição em algum nível. “Elas manipulam as visões do mundo e acreditam que tudo vai contra elas”, diz. Já Lucia Rosenberg acredita que estas pessoas se vitimizam por não acreditar em seus próprios aspectos positivos. “Como não recebeu um reforço positivo, ela se vitimiza, ou seja, só se critica ou se põe para baixo”, diz.

Pessoa que fala mal dos outros o tempo todo14. Pessoa que fala mal dos outros o tempo todo

No trabalho, ela fala mal da pessoa que senta ao seu lado, do chefe, do segurança. Na vida pessoal, dos filhos, das melhores amigas e do marido. Ninguém escapa ao seu olhar crítico.

O que significa:Segundo Claudio Picazio, quando a pessoa fala mal de qualidades alheias é um sinal claro de inveja. Quando é sobre outros assuntos, Picazio explica que pode ser medo de reconhecer características que desgosta. “A gente projeta muito. Frequentemente essas pessoas vêem seus próprios defeitos nas outras e isso incomoda”, explica.

Pessoa que dá a entender que está a fim e depois pula fora15. Pessoa que dá a entender que está a fim e depois pula fora

É o tipo que conversa e joga charme para todo homem que encontra, mas quando o cara demonstra um interesse real, ela começa a despistá-lo.

O que significa:A pessoa é uma sedutora compulsiva. Segundo o psicólogo Cláudio Picazio, uma pessoa que seduz sem parar (e sem dar continuidade) tem o lado emocional infantilizado. “Ela chama atenção, mas não consegue dar nada de volta. Só quer ser amada, mas não consegue amar ou ter um relacionamento de verdade”, diz.

Ilustrações: Renato Munhoz


segunda-feira, 26 de julho de 2010

o que é bullying / bullying nas escolas

Como lidar com um filho que pratica bullying?

Clarissa Passos, iG São Paulo | 21/07/2010 12:10

Em setembro de 2004, três estudantes adolescentes de Carazinho, cidade de cerca de 60 mil habitantes no Rio Grande do Sul, criaram um fotolog com fotografias alteradas digitalmente. O alvo das fotomontagens era um colega de classe dos três - que, ofendido com o que os autores consideravam só uma "brincadeira", entrou com um processo por bullying contra o provedor do fotolog e o responsável pela conta de onde partiam as postagens - no caso, a professora Solange Ferrari, mãe de um dos garotos do grupo.

Três anos depois, em dezembro de 2007, Solange foi surpreendida por uma intimação. "Nem sabia do que se tratava", relembra. Ela telefonou para o filho, que já havia atingido a maioridade e morava na Itália. "Foi aí que ele me explicou", conta ela. Solange, que mal sabe postar um foto na internet, foi condenada este mês em segunda instância, em decisão inédita no estado. Ela deve pagar R$ 5 mil de indenização, corrigidos, à vítima de bullying - que hoje estuda não só na mesma universidade que o filho dela, como também na mesma classe. "Eles não se falam e meu filho diz que o que ele mais sente é o fato de eu ter de pagar por algo que ele fez".

Solange, que recorreu da decisão, lamenta que um jovem com idade considerada suficiente para escolher os governantes não seja responsabilizado pela Justiça. "Se eu tivesse sido informada da história, teria tomado as providências necessárias", declara. Certamente ela seria mais rápida que a Justiça, mas quanto à responsabilidade da condenação, sob o ponto de vista do Código Civil, não há dúvidas: o artigo 932 enuncia que "são também responsáveis pela reparação civil os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia". "É bem claro: do ponto de vista da lei, os pais são responsáveis pelos atos dos filhos", diz o promotor Lélio Braga Calhau, autor do livro "Bullying: o que você precisa saber" (Editora Impetus).

Antes que os casos cheguem aos tribunais, o que os pais podem fazer quanto aos filhos que praticam o bullying?

Para o psiquiatra e terapeuta Içami Tiba, os pais devem tomar medidas sérias quando descobrem que o filho pratica bullying. "Eles precisam impor consequências. Não adianta só papo. Precisa ter ação", recomenda ele, que sugere a ida a trabalhos voluntários com a criança. O tipo de trabalho pode ser escolhido de acordo com a idade do seu filho: os mais novos podem visitar creches para brincar ou ler histórias para as outras crianças. Adolescentes podem ajudar a fazer sopa para os sem-teto.

Içami descarta a matrícula em uma atividade física mais puxada ou mesmo em uma academia de luta ou artes marciais, caminho escolhido por muitos pais que consideram essa uma boa solução para "canalizar" a agressividade do filho. A conversa sempre é boa, mas a ação deve ser eficaz e compete aos pais. "O que não pode é deixar barato", alerta Içami, autor de "Adolescentes: quem ama, educa" (Integrare Editora), entre outros títulos voltados para educação e desenvolvimento.

O amor não muda

Muitos pais entendem o bullying como uma qualidade, confundindo agressividade com um comportamento de liderança. "Já estive em reuniões de escolas em que o pai, ao saber das atitudes do filho, dizia que ele era um 'líder', enquanto que as outras crianças eram 'babacas'", testemunha o pediatra Aramis Antonio Lopes Neto, autor de "Diga não ao bullying". "Os pais precisam entender que aquilo é um problema para então conversar com os filhos, conhecer a vida social deles", explica.

Algumas vezes, o comportamento agressivo é desengatilhado por experiências traumáticas, de violência familiar ou social, como discussões entre os pais, separações na família, um sequestro ou um assalto. Nestes casos, Aramis sugere o acompanhamento terapêutico para a criança. Mas para ele, impedir o bullying é uma questão de conscientização que deve ser feita pela escola e pelos pais. "Pais que lidam com filhos que praticam bullying devem deixar muito claro que o amor deles pela criança ou adolescente não muda, mas que eles absolutamente não aprovam esse tipo de comportamento", defende. "Ele pode ter se tornado agressivo porque tem um problema, então não pode ser marginalizado por isso", finaliza.